Sistema Coreográfico — a partir do ZumZum das Vespas Mecânicas / Choreographic System — from the ZumZum of the Mechanical Wasps

Sorry, text only available in portuguese.


Desde que as vespas de uma nova espécie mecânica se movem numa dança ao ritmo de um zumzum sonoro dentro da nossa cabeça – ou porque se meteram por entre as finas fissuras das membranas ósseas ou porque conseguiram forçar entrada pelas aberturas cranianas para se espalharem por aquelas massas moles e muito esponjosas onde está localizada geograficamente a linguagem e aí fabricarem uma geleia de imagens, efeito de uma miscelânea de experiências –, incentivam a nossa vontade de executar ações que vistas do exterior parecem absurdas, mas cujo significado corresponde às nossas intuições que, de outro modo, ficariam reféns das ilusões de clareza que reprimimos com receio de criarmos conflitos, ou por preguiça de defendermos o que acreditamos ser exato, abstraindo-nos de medirmos forças entre o interior e o exterior, e deixando-nos cair numa sonolência apática que camufla a extraordinária capacidade de virmos a ser exatamente o que somos, sem esperança de conversão noutra coisa. Ora, isto não é metáfora, por exemplo, para enunciar uma experiência de êxtase animal nem uma imagem de ficção científica, é tão-só o que nos acontece com muita frequência quando as vespas mecânicas vibram dentro de nós. Por isso, estas linhas guiam-nos numa hipotética realização coreográfica – que já serviram de manual em 2012 quando foram pela primeira vez publicadas –, e voltam agora a ser talvez úteis quando for oportuno sublinhar o quanto a dança é expressão disruptiva de um conjunto de expectativas que não nos pertence e que se afirma ser condutor de singularidades.
2023