Em O Teatro das Plantas é invocado o jardim
representado na pintura À Sombra (s.d.), de Aurélia de
Souza, através da audição de uma teia de brevíssimas narrativas
construídas e recitadas por Isabel Carvalho. Estas narrativas
partem de dados biográficos da pintora e de observações e recomendações
ficcionalmente trocadas, ao longo de extensas gerações, entre mães e filhas,
entre irmãs, e entre filhas que passam a ser “mães”, num teatro familiar de
cuidados mútuos, recriado além do parentesco linear. No conjunto, ter-se-á
procurado dar espaço de representação literária ao que é comummente tido como
insignificante (com pouco ou de desvalorizado significado), registando-se a
familiaridade dos gestos trocados e as relações de cumplicidade estabelecidas
entre humanos e os animais, as plantas, o mar e o rio, e desta
forma complexificando o sentido de coexistência. Em contraste
com a brevidade do que é ouvido, imagens de um painel cerâmico, feito
do composto de vários jardins da cidade, são projetadas a um ritmo vagaroso,
interrompendo expectativas da experiência de tempo comum e retendo a atenção no
instante. Para esta composição, Kali/João Leonardo criou um ambiente sonoro,
estruturado a partir dos elementos naturais implícitos nas narrativas.